terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Mensagem da professora Zuleika

A professora Zuleika passou por uma cirurgia, mas não deixou de nos mandar seu carinho! Com certeza vou querer continuar esse projeto de alguma forma no futuro!


Sobre pérolas e porcos

O título do post é uma alegoria àquela frase "não atire pérolas aos porcos". Eu nunca entendi o porquê dela, já que porcos são animais tão bonitinhos, mas não vem ao caso.

Sexta-feira, fui dar aula no colégio em que fizemos nosso trabalho teórico-prático. Eu e a Dri revezamos essa semana, possibilitando que a gente saiba como controlar uma turma inteira sozinhas. O problema é que, no dia anterior, ela me contou que uma das turmas estava incontrolável. Foi uma experiência tão negativa que ela teve que chamar a coordenadora para controlar a bagunça.

Fui para a escola já "blindada" contra esse tipo de desrespeito. Assim que os alunos entraram na sala, um deles me propôs um trato: eles fariam tudo o que eu pedisse se tivessem tempo para bagunçar depois. Achei a proposta justa, já que os pobres alunos só têm 15 minutos de intervalo. Eu já fui aluna, e já achava o meu intervalo de 20 minutos muito curto. Ter aula desde as 7:30 da manhã não é legal. Vamos dar uma chance.

Tenho 19 anos, para mim não é muito difícil me comunicar com adolescentes. Fiz uma aula dinâmica, falei sobre assuntos que eles gostam, tentei relacioná-los ao conteúdo para que não ficasse maçante. Algumas dificuldades surgiram. Tive que fazer algo que detesto: dei umas "tiradas", dessas que todo mundo ri e depois fica quieto. Fiquei me sentindo hiper culpada depois. Funcionou para o que eu queria: todos ficaram calados e pude dar minha aula tranquilamente. Depois, os alunos fizeram a bagunça deles e até participei um pouco, tentando controlar o volume da farra para não chamar muito a atenção.

Sei que não deveria ter feito isso, mas já estava completamente sem recursos e acabei optando por um método "tradicional" e arrogante de controle de turmas. Mas, refletindo sobre isso depois, cheguei à conclusão de que as coisas não podem ser muito diferentes quando as pessoas já estão condicionadas a um tipo de tratamento. Eu realmente espero fazer a diferença na educação e poder me libertar dessas amarras conservadoras que nos prendem, mas talvez essa tarefa seja muito mais fácil se implementada desde a educação infantil. Não só isso, mas se eu tivesse tido a oportunidade de lecionar desde o início do ano, talvez nosso vínculo fosse mais estreito e esse tipo de medida não fosse necessária.

Me perdoem.
Carol

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Driele mole e turma dura...

Não sou uma pessoa de contar vantagem. Porém, posso dizer que tenho certa experiência em salas de aula (mais de uma década).

No entanto, nada do que fiz até hj me preparou para a experiência que eu tive com uma das turmas.

O resumo da ópera é o seguinte: Carol e eu terminamos nosso trabalho, demos aula e colhemos os textos e questionários de todas as turmas da professora Zuleika. Mas ela precisou se ausentar da escola por um tempo e pediu para que a gente a substituísse como professoras substitutas mesmo.

Eu aceitei a tarefa, animada com a "missão" de dar minha primeira aula oficial como "professora" em uma escola "escola", e não cursos de inglês. E dando um conteúdo "conteúdo" mesmo, não oficinas (como eu já fazia no PIBID e nessa oficina que gerou todo esse projeto).

Foi tudo tranquilo no começo, e eu não sei exatamente quando a coisa desandou. Uma das turmas começou a se comportar muito mal MESMO e à medida que os alunos foram percebendo que eu não consegui controlar um grupo (que antes era pequeno), alunos que estavam quietos começaram a badernar também. No fim, a sala se transformou num caos tão completo que eu precisei pedir que uma das alunas chamasse a coordenadora para interceder por mim, porque eu vi que eu não tinha mais nenhuma fagulha de autoridade sobre aquela sala, fui sumariamente sobrepujada pela gritaria, algazarra, brigas, arremessos de caderno também, mas abafa e afins.

Quero frisar aqui que essa foi uma atitude de desespero mesmo. Fui aluna da Maria Abadia (antes minha professora de Ciências e hoje a coordenadora) e se tem uma coisa que eu me lembro tão claramente quanto o meu próprio rosto é medo que TODOS OS ALUNOS tinham dela. Quando ela entrava na sala, o silêncio era imediato e absoluto. Acho que se os alunos tivessem o poder de fazer o sangue parar de circular e o coração parar de bater até isso eles fariam para evitar qualquer ruído. E apesar de gostar mto dela eu tenho vívidas lembranças (de fatos que ocorreram quatorze anos atrás) do terror que eram os constantes esporros, e de como eu me sentia dolorosamente injustiçada, pois eu era boa aluna, quieta e com boas notas, deveres sempre em dia... Não era justo, eu pensava, que eu levasse bronca por algo que eu não era responsável. Eu gostava mto dela mas detestava o clima ditatorial que emanava dela.

Isso acabou se refletindo na minha maneira de dar aula. Sempre gostei de ser amiga da turma, conversar, me aproximar deles. Isso tinha dado certo até então. Mas hoje aconteceu algo que a Simone sempre disse: "quando o professor é muito deboísta, os alunos massacraram ele".

Dizem que quem apanha nunca esquece o quanto doeu apanhar, mas eu ainda não tinha sentido a dor de ter de bater. Precisar chamar a Abadia me deu a sensação de ter assinado um atestado de incompetência. E eu finalmente entendi o porquê dos professores darem uma bronca coletiva quando ~claramente~ alguns alunos estavam quietos e o porquê de se desculparem depois. Me segurei muito para não chorar hoje porque foi a primeira vez que me senti tão humilhada e desmoralizada, com alunos fazendo o que queriam, rindo de mim (literalmente, eles falavam comigo / de mim e começavam a gargalhar). Me senti um palhaça, um lixo.

A bronca que a Abadia deu me fez rever um filme na cabeça. Dos dias em que eu era aluna e ignorava aquela bronca porque eu sabia que era inocente. Só que dessa vez eu não era inocente. A turma estava passando aquilo por conta do meu despreparo e da minha falta de assertividade. Acho que as palavras dela doeram mais em mim do que neles. Eu só queria um buraco para me enfiar. E entendi pq alguns professores tratam os alunos com punhos de aço às vezes: porque se vc dá pouquinho de liberdade (tipo deixar irem ao banheiro sempre que pedem), alguns alunos vão entender isso como "se aqui pode tudo, vou tacar o terror".

Hoje foi a experiência mais desagradável que eu já tive na minha vida de professora. Me custou a saúde das cordas vocais (estou sem voz de tanto gritar pedindo por silêncio, que ironia, não?). Mas foi importante. Me ensinou uma lição preciosa sobre LIMITES. Aprendi que existe uma linha muito tênue entre ser a "professora legal bff dos alunos feat zuera e nerd" e ser a "professora que não merece respeito e não controla os alunos", e quando você deixa os alunos pularem da primeira zona pra segunda... Francamente, se não fosse pela segurança que eu tenho na minha decisão de carreira, pela sólida experiência que eu tenho, pela confiança que tenho no meu taco e do gosto que eu tenho por lecionar, eu ia sair da aula de hoje direto para o SAA da UnB e pedir para trancar a minha licenciatura, porque a humilhação que eu passei hj, a vergonha, e o sentimento de que sou incapaz como professora foram tão grandes que a vontade foi de nunca mais dar uma aula de novo. Mas isso foi bem passageiro e depois que me acalmei eu entendi duas coisas:

1) O limite entre ser uma professora deboas e uma marionete da turma;

2) O real significado de algo que a Abadia disse no primeiro esporro que levei dela, na quinta série: "os justos pagam pelos pecadores".

E... O que não te mata te deixa mais forte.

Fica a lição. Foi extremamente enriquecedora e foi uma das lições mais importantes que aprendi na minha licenciatura.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A boa filha à casa torna (ou Drielesséia)

Boa noite.

Esses últimos dias tem sido conturbados.

Como parte da avaliação, essa disciplina (FDA) e uma outra (Psicologia da Educação) pediram um projeto. Podia ser qualquer coisa, então eu elaborei o projeto que batizei de Macieiras; esse projeto tinha o objetivo de oferecer a meninas do Ensino Médio aulas de reforço para compensar o tempo que elas perdem com trabalhos domésticos, que na maioria das vezes fica só nas costas da mulher. Fui a mais de quinze escolas e NENHUMA aceitou que eu o desenvolvesse: fui chamada de machista (!), PETRALHA, COMUNISTA, fanática por ideologia de gênero. Também devem ter me chamado de exterminadora de unicórnios pelas costas.

Quando finalmente aceitei a derrota do Projeto Macieiras, uma greve suuuuper longa foi deflagrada.

Para não me atrasar, enquanto a greve não acabava tentei desenvolver um outro projeto, com outra colega de sala que não a Carol, sobre transsexualidade. Esse projeto não deu certo por falta de participantes trans. Não achamos coerentes duas mulheres cisgêneras falarem sobre transsexualidade e abortamos o projeto. Acredito que essa minha colega tenha até trancado FDA, porque nunca mais a vi. Segunda grande derrota.

Daí comecei um projeto com a Carol, sobre o uso de português em cursinhos de inglês. Ele também não foi pra frente por razões inúmeras.

Por fim, sugeri usar um artigo que escrevi (para ITL, no segundo ou terceiro semestre) sobre gêneros literários para criar uma oficina de teoria literária para os alunos do ensino médio. Quando a greve finalmente acabou, o prazo estava apertado. Nenhuma escola abriu as portas pra gente por causa das reposições das aulas perdidas durante a greve. Apenas uma concordou, mas ela pediu TANTA documentação, foi tanta burocracia que tive de desistir dela. Chegaram a pedir um encaminhamento assinado pelo reitor da UnB. Quase perguntei se não queriam também os mapas astrais e o tipo sanguíneo da professora, da Carol e o meu também.

Foi quando decidi dar aula para o ensino fundamental ao invés do médio, e quando decidi ir à escola que cursei o ensino fundamental fazer o projeto. Lá, fui recebida de braços abertos por pessoas que foram minhas professoras. Tudo parecia que ia terminar bem.

Poooooooorém, a professora, que gentilmente nos cedera sua aula para realizarmos a primeira das três partes do projeto, num dia que ela não estaria mesmo na escola, voltou atrás. Depois dessa aula, ela precisou fazer a revisão para a Prova Brasil e depois simplesmente nos cortou. Não permitiu mais que fizéssemos o trabalho com as turmas dela. Até hoje não sei o motivo. Nós achamos que depois dessas duas aulas (a da revisão e a da prova mesmo) poderíamos retomar o projeto, mas não.

Fui procurar outra escola, mas a coordenadora me sugeriu fazer o trabalho com outra professora ali mesmo. Fiquei reticente porque não achei que esses alunos (da sétima série: os anteriores eram da oitava) iam absorver o conteúdo... Mas a professora me disse que ela ia mesmo dar aula de gêneros literários como parte do currículo, então seria bom para todas nós. Ela nos cedeu TODAS as suas aulas da semana do dia 1 de dezembro até o dia 8, e nós fomos dar aula.

Bom, eu fui. Carol estava se sentindo mal, então eu fui só. E foi bem interessante. Pela experiência que tivemos quando demos aula nas turmas da oitava série, a presença de ''gente nova" na sala é motivo de alvoroço. Os alunos ficaram muito excitados. Queriam saber sobre a gente, o que gostávamos de fazer, como era estudar na UnB, qual era o significado da minha tatuagem. Os alunos que lecionei hoje ficaram pasmados de alegria ao poderem escrever um texto de tema livre. Houve quem escrevesse sobre o Capitão América. Thor. Goku. Batman. Cães. World of Warcraft. Senhor dos Anéis. Quando terminou o texto, uma aluna veio timidamente perguntar se ela podia ouvir música no fone de ouvido, já que ainda restavam dez minutos de aula. Eu permiti e ela me abraçou e agradeceu, hahaha. Os alunos acharam máximo eu entender desse universo nerd de games, rpg, quadrinhos. Todos quiseram conversar sobre essas coisas. TODOS morreram de rir da forma como os slides foram escritos: bem informais, linguagem bem largada. Eu também falei de forma "largada". Eles riram muito e se divertiram muito hoje.

Acredito que isso seja reflexo da educação precária que temos aqui. Existe um mundo de responsabilidade nas costas do professor, que acaba se distanciando dos alunos por não ter tempo de conhece-los melhor, conversar e interagir com eles. Vygotsky e Wallon ficariam de coração partido. Acho que entra também a questão da austeridade das aulas. Só se fala de literatura canônica. Só se escreve ensaios para a redação do ENEM. Não é à toa que a maioria dos alunos detesta literatura: ela nunca é usada para o lazer e o prazer. É sempre a mesma coisa, os mesmos autores, os mesmos livros, as mesmas cobranças. É de arrasar qualquer adolescente. Até porque livros como O Guarani são bem chatos mesmo.

Enfim, essa foi minha experiência de hoje. E amanhã tem mais!!

Bjos!

sexta-feira, 27 de novembro de 2015